Traqueostomia em crianças: a importância do cuidado multidisciplinar  

Postado na categoria Artigos em e atualizado em 17 de fevereiro de 2025


A traqueostomia em crianças, embora possa ser um procedimento desafiador para as famílias, desempenha um papel crucial na assistência a recém-nascidos e crianças que necessitam de suporte respiratório prolongado. O procedimento consiste na criação de uma abertura na traqueia para garantir a ventilação adequada. Isto é, o “tubo de respiração”, em termos leigos, é inserido pela área externa na parte inferior do pescoço e superior do peito. É especialmente indicado para casos de obstrução das vias aéreas superiores. Também ocorre quando a intubação orotraqueal* se torna inviável por atrasar a recuperação do paciente ou constituir maior risco de sequela.

No contexto pediátrico, a traqueostomia salva vidas, proporcionando maior sobrevida e qualidade de vida a crianças com condições complexas. São exemplos, prematuridade extrema, doenças neurológicas (paralisia cerebral, epilepsia), e situações de estenose laringotraqueal adquirida após longos períodos de ventilação mecânica invasiva.

Quando a traqueostomia é indicada em pediatria

A indicação de traqueostomia é criteriosa e depende de múltiplos fatores clínicos. Recomenda-se a realização do procedimento após um período de ventilação mecânica por intubação orotraqueal de 10 a 15 dias, caso não haja perspectiva de extubação segura. O dado é da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Entre as principais indicações estão:

  • Obstrução crônica das vias aéreas superiores, como na estenose laringotraqueal.
  • Dependência de ventilação mecânica prolongada, comum em prematuros extremos.
  • Doenças neuromusculares e neurológicas graves, que comprometem a função respiratória.
  • De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria -SBP, cerca de 0,5% a 2% das crianças intubadas por mais de 14 dias precisarão de traqueostomia para garantir uma via aérea segura e estável.

Desafios no acompanhamento de crianças traqueostomizadas

O sucesso do tratamento não se limita à realização do procedimento. O acompanhamento contínuo por equipes multiprofissionais é essencial para prevenir complicações e promover o desenvolvimento pleno da criança. Pneumologistas pediátricos, fonoaudiólogos, gastropediatras, fisioterapeutas e nutricionistas desempenham um papel fundamental na evolução desses pacientes.

Um dos principais desafios após a alta hospitalar é garantir a continuidade do cuidado domiciliar. A higienização da cânula, a aspiração das vias aéreas e a monitorização constante são práticas indispensáveis para evitar complicações, por exemplo, obstrução das vias respiratórias e infecções recorrentes, como pneumonia.

De acordo com dados da Unicamp, cerca de 20% a 30% dos traqueostomizados infantis nasceram prematuros extremos e passaram por longos períodos de intubação. Esse tempo prolongado pode levar ao desenvolvimento de estenose laringotraqueal, uma condição que demanda intervenção e acompanhamento especializado.

Tecnologia e humanização no cuidado

O Grupo Neocenter desenvolveu uma cartilha de orientação para as famílias de crianças traqueostomizadas, entregue no momento em que a equipe multiprofissional discute a necessidade da traqueostomia. Esse material reúne informações essenciais para esclarecer dúvidas, familiarizar os pais com a nova rotina e reforçar os cuidados necessários. Antes da alta hospitalar, os familiares passam por um treinamento para que se sintam seguros e preparados para dar continuidade aos cuidados em casa, garantindo mais qualidade de vida à criança e reduzindo o risco de complicações.

“É importante conscientizar que a traqueostomia exige acompanhamento constante e planejamento baseado no progresso da reabilitação respiratória,” comenta Ana Franco, coordenadora de Fisioterapia do Neocenter Felício Rocho.

O aumento das taxas de “decanulação” em crianças é decorrente da evolução tecnológica e o treinamento constante das equipes de saúde. “Por mais que possa ser difícil inicialmente, encarar a intervenção como uma fase transitória, não definitiva, pode ajudar. As crianças apresentam uma incrível capacidade de regeneração, diferente dos adultos, cuja recuperação pode ser mais lenta, como vimos nos casos de ventilação prolongada durante a pandemia”, aponta Ana Franco, coordenadora de Fisioterapia do Neocenter Felício Rocho.

Traqueostomia em crianças – conclusão

A traqueostomia, apesar de ser um procedimento delicado, oferece a essas crianças uma chance real de superar desafios respiratórios graves e retomar suas rotinas. O compromisso das equipes multiprofissionais e a capacitação das famílias são fundamentais para transformar essa intervenção em uma verdadeira ponte para o futuro.

*Intubação orotraqueal: inserção da cânula por meio da boca.

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