Novembro Roxo: importância da proteção do cérebro do prematuro

Postado na categoria Artigos em e atualizado em 1 de novembro de 2024


Durante o Novembro Roxo, época de debates sobre questões que envolvem o parto prematuro, uma das principais abordagens que geram muitas dúvidas tem a ver com a importância da proteção do cérebro do prematuro.

De acordo com a médica intensivista neonatal Dra. Júlia Bortenk o cérebro é formado muito cedo, a partir das primeiras semanas de gestação, e continua seu desenvolvimento ao longo do segundo e terceiro trimestre. “No caso do bebê prematuro, ele nasce antes de se completar os processos de maturação cerebral, que seriam no final do terceiro trimestre. Nesses casos a prematuridade interfere nesses processos, podendo levar a modificações na sua estrutura e desenvolvimento. Isso pode ter implicações no desenvolvimento futuro dessas crianças, como, por exemplo, alterações na parte motora e na fala, no comportamento e cognição”.

Um bebê é considerado prematuro quando nasce com menos de 37 semanas de gestação, explica a médica, lembrando que “no Brasil, a prematuridade corresponde a cerca de 12% dos nascimentos”. O cérebro deste bebê é particularmente frágil. “Uma das principais complicações é a hemorragia peri-intraventricular (HPIV) que ocorre dentro e ao redor dos ventrículos cerebrais, sendo os bebês com menos de 34 semanas e de 1500g os de maior risco”. Felizmente, informa a médica, a maior parte dessas hemorragias é considerada de grau mais leve e não causam grandes complicações ou sequelas. Podem ocorrer ainda lesões por falta de oxigenação e por alteração do desenvolvimento normal do cérebro.

Monitoramento – Essas complicações ocorrem, pois existem áreas muito delicadas (chamadas de matriz germinativa), em que há vasos que podem se romper e originar o sangramento. “Uma vez instalada, a hemorragia vai sendo monitorizada, tanto para acompanhar sua evolução quanto para controlar as complicações que possam surgir”, destaca a médica intensivista neonatal.

Conforme a Dra. Júlia explica, esses bebês são monitorizados periodicamente com exames de imagem, para a detecção de lesões cerebrais, além de outros exames feitos também na UTI Neonatal, para acompanhamento de outros órgãos, entre eles a visão. Dependendo da evolução do bebê, ele pode ter alterações que se resolvem sem deixar sequelas. Outras podem ter consequências mais duradouras.

Em relação a fatores protetores, destaca, é sabido também que o uso do corticoide antenatal pela gestante quando indicado (que ajuda a amadurecer os pulmões) também tem efeito na maturidade da matriz germinativa, diminuindo a incidência da hemorragia peri-intraventricular”.

Equipe multidisciplinar –Sobre a equipe multidisciplinar, a Dra. Júlia ressalta a importância do cuidado para a proteção do cérebro do prematuro, tanto intra-hospitalar quanto após a alta. “Sabemos que esses bebês podem apresentar dificuldades em várias áreas. Portanto, é fundamental o cuidado conjunto da equipe médica, da enfermagem, da fisioterapia e da fonoaudiologia”, observa a médica.

A equipe multidisciplinar, como no caso do Neocenter, é essencial no cuidado de um bebê prematuro. “A enfermagem atua principalmente no cuidado direto diário intra-hospitalar e a fisioterapia realiza os atendimentos tanto da parte respiratória, quanto de estimulação motora precoce desses bebês. Já a fonoaudiologia atua ajudando no desenvolvimento/aprendizado adequado de sucção ao seio materno, uma vez que muitos nascem antes dessa função estar totalmente desenvolvida”.

Quando o bebê prematuro atinge 40 semanas de idade corrigida, ou seja, quando ele chega perto da época que estava pronto para nascer, pode-se observar uma maior maturidade dos órgãos e sistemas. Porém, explica a médica, alguns prematuros às vezes precisam de cuidados adicionais, além dessa data.

“Normalmente até os dois anos de idade, os bebês prematuros precisam de um acompanhamento especial após a alta, principalmente os nascidos com menos de 28 semanas, feito idealmente por uma equipe multidisciplinar e com experiência para atender essa população, que possui várias particularidades”, conclui.

Foto: Paula Beltrão

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